José Kappel

Um amor sobrevive a outro amor

Textos

Fui Me Meter Com Mulher Casada
tá certo a gente aguenta e inventa!
até um ponto, a gente segura,
mas levar no colo mulher casada,
é tiro e queda, é certo, louca pimenta !

cai na vesperal dos vários loucos,
fui jogado na história de muitos,
mas na hora que bate na nossa asa,
tudo roda feito bêbado rouco !

não é que fui me entrelaçar de amor,
com mulher casada! - pobre assado!
não é que enrabichei, feito cachaça -
com mulher casada ! - infeliz achado!

tudo começou com um olhar de paixão,
pois algumas mulheres
sentem o amor
brotar, na hora, quando de lassidão,
um olha pro outro e  ela
diz: é esse meu
novo varão !

o esse era eu e o essa era ela,
na pura divagação, conversa começa,
fala daqui, fala de lá, sem paralelos,
igual trilhos que nunca rangem .

e a coisa foi crescendo,
a amizade aumentando,
do samba-canção
passou para orquestra harmônica,
de tamborim, virou oboé.
numa andança que não parava:
só aumentava o desejo,
virando amor de gigantes
na palhoça de lençóis de fé.

mas a mulher era bem casada,
e eu também casado:
duas coisas que não combinam,
na mesa dos perdidos e assados.

eu não passava sem ela
ela, viva e muito azul,
feito esplendor de céu, também
não vivia sem mim.

prato feito pra encrencas!

foi crescendo até entre
os crentes!

povo sábio, descobre logo
quando o homem sai dos
trilhos, ou  quando a mulher
administra duas camas
ou um pote vermelho de comer !

isso durou dois, três anos,
o amor subjugou-se à paixão,
ela, sempre esplendorosa
feito faisão,
eu, caidinho
por aquela feitura
de puras rosas de cantão.

um belo dia, que era noite,
eis que o homem dela,
um tinhoso homão,
dando banho de músculos
e ignorância padrão,

surge no de repente  
e também no súbito,
me descobre em cima dela
e passa a foguear  tiro
pra tudo que é canto.

as balas passavam rentes,
a mulher acoitou-se num canto,
eu, no embaralho de lençóis
me esquivava  igual
rena sendo caçada
nos poentes varados.

vi luz e pulei nela,
varei a janela e no
jardim florido,
fui cair igual cozinheira
cheia de panelas.

e tudo virou caos,
a mulher gritando avisada,
eu correndo,
quase nu anciava,
chegar num abrigo.

entrei no carro só de camisa
e liguei o carro e só me senti
homem de verdade quando
o veículo  virou a esquina,
tão inclinado quanto às CPIs
brasileiras:
igual à pizza.

bem, resumindo história:
o homem mudou-se de cidade
e levou consigo a mulher
que era mais minha
do que dele.

nunca mais ouvi falar
deles, mas minha vida
virou história de cantorias
nos bares da vila.
onde enalteciam
minha alforria.

mas aprendi,
nunca mais me meto
com mulher casada,
pois tudo acaba um dia
igual a meu fim:

sem mulher alada,
e com com fagulhas
de pólvora
no meu órgão provedor,
sem, ao menos
poder registrar queixa
na delegacia dos confins.

ah! amor sem fim !
ah! pólvora dos diabos,
que quase me deixa
sem o meu pim-pim !




José Kappel
Enviado por José Kappel em 20/04/2006


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