De Passagem
Estava de passagem,
indo e vindo, sem lugar certo prá ficar, mas estava de passagem. No caminho de agrulhos, encontrei uma ponte de encarquilhos. Do outro lado da ponte, envergada de madeira, e solicitude de musgos, estava alguém acenando. Esperto, até certo ponto, acenei de volta, com meu tímido arredio. A outra pessoa do outro lado falou mais alto: "Vem, que é raso, vem que flutua, vem que a água é tépida." Indeciso, me arremessei de pensamentos. Mas, de medo imprevisível, sai logo dali. Fui embora por outra estrada, menos arenosa e sombreada de eucalíptos. No caminho de pedras magras enontrei um morador da região - abastado de lenha às costas -. Perguntei indeciso, ao que achei de pobre homem: quem fica do outro lado da ponte a acenar? E ele atorniquetado de toras me disse: é a dona da vida e da morte que chamam os caminhantes. E se eles não forem - perguntei meio agro - De duas uma - parecia refletir ele - ou a pessoa está a beira da vida ou da morte... e o que o sr. disse - perguntou o homem dos dos feixes. Vim embora correndo - falei já com meio-pé de medo. - Então não se preocupe - disse ele - se a pessoa nada te fez é sinal que sua vida de nada vale e sua morte, muito menos ainda. Você está apenas de passagem entre o claro e o escuro, entre a vida e a morte, procurando um caminho que não existe; procurando sentimentos que já se foram -arredou ele. E disse ainda: Sua hora já é da noite, e sua imagem só torquilha medo e ansiedade. Você não está aqui nem lá: por isso se acalme: você está apenas de passagem !
José Kappel
Enviado por José Kappel em 29/04/2006
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