Agasalho de Afins
Coisas da alma,
sobretudo dos espíritos, meia-água de perdão, que invade agora nossa solidão. Estar junto já vale pouca coisa; é como beber um vinho doce e no fim se perder no aguardente. Não foi por mal, foi a engrenagem da vida: uma hora prá frente, outra prá trás; sem maldade apenas ela tinha piedade. A gente vê as coisas cairem como um dia sombrero que se esvai, como as pétalas amaciadas das figueiras se deixam e se partem ao vento. A gente vê isso o dia inteiro, é certo, mas quando a gente se vê dentro de uma história de amor, é outro capítulo prá calcular. Ai dói mais, É uma lança de duas pontas, tão arfado como um raio de sol. Você sente e os outros pensam que não. Mas está ali: é uma classe especial prá fugir da gente como um raio que bate de repente! Não mais importa. Se perdi, perdi dobrado e, ela, se ganhou, fingiu ser gloriosa, correu do sim e se agasalhou no não. Meu espaço foi tomado, sugado pelo tempo, vivo agora de choro e lágrimas sofisticadas, pensando só nela, no tempo dela, que morreu em mim na fronteira final, entre a dor e a saudade. Sou agora a última etapa: um resto, sem ser amado!
José Kappel
Enviado por José Kappel em 01/09/2006
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