Ah! Esses Mundos
Recebo ordens
e me calo, como um pássaro acuado. Recebo ordens e deixo a vida passar. Eles me confundem com pajens mal pagos e doloridos. Se cores vazias escorrem pelo meu corpo é culpa dos intempéries da ordem. É ordem superior – me acautelam – é do Mestre, do Ouvidor do Rei de poucas terras. Mas são ordens! Em que precipício cai? Vindo não sei de onde, E sempre partindo malaio tentando alcançar algum amanhã. sem parche. Mas são ordens do ordenança que só é pago para cobrar meus feitos E meus mal afiliados desastres. Um dia, homem posto, de uniforme rotudo, cetins priscos e sapatos galhardos, recebi ordens da rainha que, pobre como eu, também as recebia. E ela me pediu, suplicou, e eu mal diga, deixou-se em lágrimas, pedindo um sofoco de ajuda. E como nunca fui herói nem guerreiro, nem dos centuriões, e menos ainda na vida real, Acalentei suas ordens. Eram simples e polutas: Queria um dia saborear o frescor da noite e apaziguar-se ao orvalho, ao brilho do sol e penetrar por campos floridos. E, tomado por destemido, lá fui eu com as ordens nas mãos, e uma alegria no coração. Então as cumpri de tomado: Trouxe para ela outra rainha, meiga, olhos esverdeados de pura alegria, terna e companheira. Mulher de gente, sem ordens, pura, cristalina como a água mais pura, dengosa e cheia de meigos e afetos norteados. Mulher de gente, mulher amada. Ah! Vivazes companheiras que já morreram! E a ela levei. Então,as duas, horas sem fim, dias e dias, e depois, como contam as fadas, anos imensos e iluminados, onde só resplandecia o verão, as duas se amaram como flores simples de um jardim querido. As duas viveram juntas, longe do olhar suspeito do poderoso rei que só se satisfazia em caçadas plenas. E me tornei herói em seu coração por cumprir uma simples ordem da generosa rainha. E um dia, já velho, morando nos costados do castelo, recebi estas singelas palavras numa carta esmorecida de perfume humano: “Meu encanto, por ordem minha e de minha amada, e também, desejo do meu espírito, consegui vislumbrar a noite majestosa, de estrelas simples; me banhei ao luar e me escorri pelo orvalho simples que me aproximava da noite, onde cálidas mãos me atordoavam de alegrias. Numa vida, ganhei duas. e agradeço ao nobre ordenança por ter conhecido as raízes da terra e o outro do mundo onde só o sol brilha. Agradeço por meu mundo ter penetrado e lá descoberto meus anseios e nobres desejos. Por isso lhe remeto esta flor de sua rainha, hoje e sempre, sua estrela da sorte, sua, agora e sempre, duas criada por inteiro.”
José Kappel
Enviado por José Kappel em 12/09/2006
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