Cerca de Farpo
lá onde
rosinha mora - nossa roça - tem vendinha do seu manuel que vende cal e cachaça. cal para os que foram e pinga para amainar os tem medo de ir. foi lá que falaram mal da rosinha. um homem sem estrutura, mas de estatura, começou a dela falar mal,cheio de textura descolorida, e abonado por aparente loucura! inveja de homem: aquele que só quer comer de colher ! não tive dúvidas de amém, parti prá cima dele que, de um safanão, me dispos contra a parede. separa a briga de dois romanos alquimistas: estamos em luta na biga que leva rosinha de enfeite. pode ser que eu seja fraco, mas uma coisa sei. por zeus ! que sei. a honra da mulher tá lavada enquanto eu me recobro de meus doloridos! rosinha mora em casebre de palha, lá na nossa roça. tem vestido de cor e comida de mesa. nada lhe falta a não ser um pouco de cultura fácil de jornal. mas já desisti disso: ler ela não aprende, mas recitar o faz com dengo. oras! já tive amor firme, destes, mas é igual à cimento duro ! pode rachar mas não quebra. é amor de matar! meu ammor por rosinha é assim: divertido e cheio de graça. pirilampos de festa, romeiros de esperança que podiam até ser benditos! nosso amor não desanda igual aos mancos. é rocha sem lasca, é sombra na cocheira, é biga de rei em tempo de verão, onde costuma faltar a lei. por isso, cá, já resolvi: quando morrer deixo pra rosinha: um pasto de éguas, uma bebedouro de touros, uma alavanca de puxar, uma escada pra descer, um vento pra colorir de branco, com os cabelos delas empesinhados de ternura, e um prado, com sol poente. além de um verso de agrado, pro seu sentimento cristão: "bela rosinha quando vou a ti revivo meu amorsinho, cheio de carinho pois você é o início e o fim de minha vidinha. " ela gosta, e quase chora de minhas rimas bem poéticas! rosinha é coisa do vento: bicho-mulher, papa-léguas de todo sexo. um dia aqui, outro, diferente. Se toda rosinha fosse amor-perfeito eu já teria uma duzia de jardins. Rosinha marca as horas: vinte prá cá, vinte prá lá. Depois disso, ela conta os centavos e eu vou pro lavabo. amor eterno dá nisso: sempre termina em terreiro ou se lavando nos banheiros ! sou cozedor de paixão: destas que dão de repente. e, de igual, fica tudo no pazedouro! rosinha é fruto disso: me faz tresloucado de amor puro. digo por ela, digo por mim: igual a rosinha não tem. pena, pena... rosinha, que nosso amor é visto como palha seca: e é pago nos costumes da lei: recebeu, deu, e tudo em mim onde tudo se afloresce. amor de roça é assim, sem troça: mulher de todas é muito mais minha do que qualquer homem touro!
José Kappel
Enviado por José Kappel em 27/09/2006
|