Um Dia Fiz Alguém Feliz
Hoje era um dia especial, disse eu entre paredes -. Tirei o dia pra deixar você feliz. Foi fácil, coloquei uma calça de puro brim branqueado, com uma tira, meio marrom, que se escorria pelas ancas das pernas, me parecendo mais com um militar sem guerra. Me vesti de camisa branca, não esmaecida, como pensam alguns, mais branca e quase reluzente. Era o dia que eu tirei pra você ser feliz. Olhei pro céu e não havia ameaça de chuva, frio ou tempestade. Era um dia passivo - quando a natureza tira para descansar. As folhas vazias de ventos, as árvores em plena comodidade entre a paz e a luz. Tirei o dia para deixar você feliz. Essa era a ideia que escorreu em mim e dela não me divido - como fazem alguns - era minha de pronto - e disse por que não fazê-la feliz? Assim, fui para minha máquina de escrever e comecei a rascunhar palavras de amor ardente. Tinha que fazê-la entender do meu amor imensurável que brotava em meu coração. As palavras saiam rápido como raios de luzes, banhadas de grande sentimento - puro e reluzente. Disse tudo o que pensava e até o que jamais pensei que pudesse dizer. Era um meio pranto, mais doce como algodão que despencava de meu coração, para a tira de papel que também parecia se alegrar com tão belas notícias de nossas trilhas do amor. E desenhei meu corpo e minha alma, falei sobre o sol e a lua, falei sobre o possível e o impossível, descrevi mares que nunca vi, terras soleiras onde jamais havia pisado. Descrevi castelos e reis e majestades; a coloquei como uma rainha tenra e candente, dona de mil terras, mas cujo coração só a mim pertencia. Por isso, viajei por campos e montanhas. Fiz de tudo que o coração mandava dizer. Ela era meu fruto, minha cadência minha esquina da vida, minha estrela. meu parente que nunca tive, meu amor - sem amorfas setas - que tentavam indicar um caminho. Assim, consegui meu intento. Havia passado horas escrevendo e dizendo, e arguindo aos deuses se havia mulher como tal. Na carta de altas laudas, habilmente redigida, coloquei o restolho de uma pétala de rosa e ainda adornei a carta com um bom perfume sentimental. Fui ao correio mais próximo, e enviei a carta e nisso senti um misto de alegria e felicidade. E amealhou-se uma terrível amargura ! Afinal não é qualquer um que tira o dia pra fazer uma pessoa feliz. Eu tinha realizado minha missão de amor; afinal ela era querida e densa, pura e dengosa, difícil, geniosa, bela, candente e pura. Resposta? E daí? Sabia que nunca receberia resposta nenhuma! Mas com certeza, com certeza absoluta, sei de coração, que um dia tirei, pra tentar deixar alguém feliz. Mas também sabia que mortos não falam ! Os mortos não falam ! Só fazem doer. Eu a fiz adormecer mais, com fios, fiz melro de flores para me tornar lágrimas de mim mesmo, sem graça, sem cores ! José Kappel
Enviado por José Kappel em 08/04/2017
Alterado em 24/05/2017 |