Lastro de Perfume
Desfaço compromisso, arreio o pensar na paisagem, ou no próximo que pede passagem; desmonto minhas coisas em praça pública; rebuliço as crianças com minhas quinquilharias. Sou feliz por tentar. Sou absorto e de retidão. Não faço por menos, mas quando não há milagres tenho que me retirar. Sou compasso de flores, jardins desfeitos pelo rústico vento norte. Mas ainda sou um pouco de ser. Tão difícil - só um louco! Então, num soslaio de esperança, me arrumo de prumo com vasto lastro de perfume e vou à procura dela. Escondida em alguma parte do corpo dela fica o passado - tão distante -, camuflado de espíritos das coisas do mundo. E sei que não vou encontrar: na minha vida só me deparei com rastros, e apanágios coloridos de morte. E sei que vou à toa, de rústico, sei lá, com outra vida, dispersa da minha ! E eu, de caduquice troiana, vou pedir pra ficar; ficar de momentos, só, por um minuto, até! Olhar pro rosto dela e pensar - um dia tive este castelo e a maresia do destino o carregou pra outra vida. Vida que me carregue! Vida que me desfaça ! José Kappel
Enviado por José Kappel em 12/06/2019
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