Duas Montanhas
Chamem isso de eternidade: uma luz vesga na escuridão dois homens pra cá, dois pra lá. Uma luz pra todo mundo se enxergar dentro do nada e depois falar: - Meu pai, meu pai, guerreiro, onde lutas agora? Se for em campos brandos, se for onde névoas de branduras cobrem a manhã, se for entre nesgos de flores se for entre jasmins, nós te abençoamos. E foi morar tão longe, em casas estranhas e bocejantes. Se for por tudo isso e muito mais Pai, daqui onde estamos, no carquilho do navião sem prumo, te desejamos boa sorte e boa morte. Se for por tudo isso, lateja em nós um gosto de alegria ao saber que o Pai nosso que agora se vai já bordeja longe, próximo às estrelas ou em mundos de seda. Perdoamos sua partida e saudamos sua chegada à beira mar. Somos dois filhos, dois parentes, mesmo sangue, mas avilta em nós sua figura sombria e triste porque lá no fundo, bem lá no fundo, você já sabia que ia para algum lugar e não o temia. Mas afinal o que um homem bom pode temer? Se alguras e passeia em estrelas? Um beijo Pai! Que durma o sono das anjos e acorde com o sol rompante de luzes e magia. Nós ficamos, e um dia - e talvez aos dois pares dele, dois corações e um espírito - vamos conjugar nossa esperança na eternidade de cada um. Que haja silêncio, mesmo em tal eternidade! Dizem, chama lá o homem do trem, o carteiro de boas-notícias! Aguarde o trem das seis o bonde das quatro! Sua juventude adormece em nós todos numa chama inigualável. Já somos poetas do além. E de bom grado dizemos: Bom-dia senhores, um novo dia começou. Alegrem-se e chorem de mansinho, em memória do burgo-mestre, do homem que foi para duas montanhas de sol! E nos guarde lá! José Kappel
Enviado por José Kappel em 16/06/2019
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