José Kappel

Um amor sobrevive a outro amor

Textos

Geografia da Dor

Gosto por gostar. Se gosto de uma laranja, de uma bala, do sol ou da noite, gosto por gostar nasceu em mim.

Mas nesta travessia gorda de astutos observadores do mal, a gente acaba sendo alvo de solavancos e peripécias de espíritos e mentes que procuram nos outros a sua desgraça própria.

O assunto é amplo e tão complexo. O gosto do amor tem infindáveis facetas e conjecturas que nada pode ser descrito, e sim vivido, e a experiência do amor de cada um deve ser passada para o outro iluminado.

Amar é um gesto particular e poderoso. É milagroso por nos levar a viajar por campos imensos onde rolam taças de champanha sob o fusco de velas em candelabros de ouro e viajamos entre as estrelas, brincamos de roda e usamos calça cumprida.

São os castiçais do amor.

O poder do amor é incomensurável. Mas o entendimento e a compreensão é saldada com vigas poderosas que a sociedade impõe a cada um. Deve-se amar o certo ou aquele que, alguém por nos chegado, aponta.

A gente quase não é dono de nossas atitudes e posições. A gente sente nos outros um grito de horror que vai despencar mundo afora.

Somos frutos daquilo que dizem e que nos apontam a trilha a seguir. Nossa posição diante do gesto de amar não tem índoles, nem cor, nem sexo.

Isso só dá cordas e anseios à uma sociedade que quer uma base sólida e externa cuja moral só viceja por trás de cortinas.

E nisso tudo, num desabafo meigo, quero enaltecer o meu amor, quero vivê-lo e fazer dele minha vida, meus milagres.

Ganho presentes, rodamos pelo mundo atrás de outros mundos mais radiantes e vistosos. Nossa identidade interior é tão poderosa como qualquer outra que possa aparecer.

No entanto somos julgadas pelo avesso. Nossa vida é vasculhada e triturada pelas bocas, ditas de ouro, da sociedade eficaz.

Não somos iguais, apesar de, no íntimo, gostássemos de estar junto aos outros. Se nos vissem normal, também a vida deles seria normal.

Mas se algo vai mal pro lado de cá, somos vistas como aves daninhas ou sem ninho. Somos o lado pavoroso deles.

Para descobrir este amor, só a vida ensina. E se ensina a dor é sinal que os problemas deles são sobrepostos as nossas atitudes. Em dor maior.

Ser alijada e ser cunhada como algo monstruoso, dói por dentro, apesar de aparentarmos suposta e meiga calma.

Não há poucas virtudes no gesto de amar. Há milhares delas. E eu sou uma dela. Sou amante de quem me quer. Sou amante da noite e do sol, das estrelas e de Deus.

Sou mulher-anjo, e sou dela, e amo outra mulher."
José Kappel
Enviado por José Kappel em 03/07/2019


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