Do Fundo do Rio
Querido pai. Sei que me
espera com ansiedade, sei disso por ser também sobrenatural e fazer parte da família que se foi um dia. Mas hoje... hoje! Estou feliz, feliz assim, cheio de roupa nova, brilho de seda, parecendo um rei, que não se despertou para o adulto. Sou eu que desfruta de satisfação e ventura; sou ditoso, afortunado, venturoso. Lá por dentro onde voam pássaros de fogo sou intimamente contente, alegre, satisfeito, por saber que vivo estás em algum lugar que ficou. Sou eu que prospera, que não teme o suicídio, ou se desliga da vida de modo permanente. Sempre tive bom resultado; fui bem-sucedido: e favorecido pela sorte, um afortunado: que pede bênçãos ao padre de manhãzinha e que me proporciona felicidade, e disparates de emoção, pois sou um bendito avulso. Estou sempre bem lembrado ou imaginado, pelas moças da vida, e convivo com o restolho de seus sonhos. Hoje denoto a visão da alegria,com satisfação, contentamento e ventura. Uma zorra de alegria numa pedra que bate e não fere! Mas no fundo, se recolher os destroços, lá nos perdizes,sou apenas um laço sem cor, um ameaçador da vida, um pronto para se atirar daqui até lá. Daqui da ponte até o fundo do rio. De seu filho, João.
José Kappel
Enviado por José Kappel em 07/04/2006
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