Ao Querido Pai
Aqui vai indo. Por luzes, por meia-lua. Mas há sempre orvalho à noite e meadosde sol durante o dia.
Escurece cedo. As árvores de nosso bosque, parecem se encolher com a proximidade do inverno.Tal como você gostava. Elas estremecem e chiam quietas e soturnas, mas parecemsuperar tudo ao amanhecer, quando despontam em copas coloridadas e com seuseio margeado de pássaros simbilantes, que azulam nossas janelas com seu ir evir, rebatendo seus penachos nos vitrais. A gente dorme de seu jeito: comum e embriagado, com o mundo, ou uma parte davida, que acabou de acontecer. Cumprimos nosso dia, nossa faina, nos morosos e, às vezes, entediantes deveres,mas cumprimos e amamos, pois aprendemos com você que tudo o que se faz com amor- frutos deles despontarão em nosso corpo, igual à fadas encantadas que nosharmonizam com suas varas mágicas e coloridas. Assim, segue a vida. Purpurina, azulada, e, por vezes, até caótica, pois nossasidades se confundem, pois crescer é um ato de tanta intensidade que, às vezes,nos perdemos nele, e sabemos que também estamos perdendo parte do tempo, que,pouco a pouco, nos leva a algum lugar. Depois das tarefas do dia, reunimo-nos na velha sala de jantar. E nela, emsilêncio, nos damos as mãos e, juntos, rezamos:para que sua paz eterna sejanossa inspiração para um novo dia de aventuras que o mundo nos abraça. Com sua inspiracão de vida, temos certeza de cumprir a missão a nos confiada. E, depois, em lágrimas fortes, rezamos por você. Que no céu, ou onde Deus nos reservou um lugar para nosso espírito, nosencontremos um dia e sejamos, de novo, a família mais feliz do mundo, tudoreflexo de um pai maravilhoso e terno. Um beijo de todos. Sua morte revitaliza nosso pão, e nos açoda celestiais, paraum novo dia que deve seguir. Perdemos você, nosso pai, mas a herança de amor que nos deixou, ultrapassarazões e limites. E já não somos sombras: somos imagens reais do que você era. Tudo isso gerado por você. Com sua graça espiritual espalhou em nosso corações,a semeadura de um novo tempo. Tempo que é obrigado a seguir em frente. Gente simples, como nós, que entendemos cedo, o que é o verdadeiro amor e apaixão de um homem pelos seus filhos, sua mulher, mulher de seus filhos. E, por fim, todo um beijo, de sua mulher, a mulher de seus filhos. Que de eterno sejamos.
José Kappel
Enviado por José Kappel em 12/04/2006
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