Amor de Roça
nisso errei.
ou em quase tudo errei. por pena ou por ser de bento, por comiseração dos eleitos, fui colocado de lado: mas, um pisa daqui, outro de lá! dá dor de dó, e a gente fica igual a pão-de-ló! pisadas iguais, esbarrando em dores coniventes, iguais aos da terra, alados! fazer de dó era prazer dos homens colados mais ou menos de pó. são de cor de abóbora lilás, enfeite de gravatas, ganchos sem simetria. parentes não eram! suponho, são errantes errantes! amém de dois! quem já morou lá na roça de meu avó, bem sabe que animais, são, de repente, mais fiéis do que o mais rente dos homens. e o amor desbelta igual. é diferente, de casca grossa, feito de amarras de beijos, alentandos por cheiro de jasmim perfumado. por isso primo pelo augusto, onde lá fora junto à arbustos, fazem o primeiro amor sem desdém. pena! com mais carinho só prá fazer neném. fui brusco, passo da hora, atropelo homens, ando em charretes de minha infância de dois nomes, um pai, a bela mãe, e os gafanhotos que morrem sem esperança. aprendi a escrever por dever, desaprendi lendo os artistas de pena, e carrapichos de que nunca ofendi. me parto em dois, por sofrer na floresta feita de arquivos, morando com esquilos, chorando fácil por tudo aquilo. hoje se foram: o início e o fim, todos bem partiram; se é demais dizer, um torto e afogado no tonel da vida. eu, esperto, só rezei. e de perto esperei ele levantar. qual. mortos não andam. mas na minha terra de ócio, perto da rocinha, mortos andam sim: depois da meia-noite das almas, de pó se tornam gente! que agouro! que aperto! ter medo do próximo que se foi prá terra de não dizer, só sei cantar, prosa e verso, e, de pouco, aprendi a chorar. não lamente não, amor de roça é assim mesmo, tem trilhas e longas sombras prá você deitar, e cálido amar.
José Kappel
Enviado por José Kappel em 19/04/2006
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