José Kappel

Um amor sobrevive a outro amor

Textos

Amor de Roça
nisso errei.

ou em quase
tudo errei.

por pena
ou por ser
de bento,
por comiseração
dos eleitos,
fui colocado de
lado:
mas, um pisa daqui,
outro de lá!

dá dor
de dó,
e a gente
fica
igual
a pão-de-ló!

pisadas iguais,
esbarrando em
dores
coniventes,
iguais aos da terra,
alados!

fazer de dó
era prazer
dos homens
colados mais
ou menos
de pó.

são de cor de
abóbora lilás,
enfeite
de gravatas,
ganchos
sem simetria.

parentes não
eram!
suponho,
são errantes
errantes!

amém de dois!

quem já morou
lá na roça
de meu avó,
bem sabe
que animais,
são, de repente,
mais fiéis
do que
o mais rente
dos homens.

e o amor
desbelta
igual.
é diferente,
de casca grossa,
feito de amarras
de beijos,
alentandos por
cheiro de
jasmim
perfumado.

por isso primo
pelo augusto,
onde lá fora
junto à arbustos,
fazem o primeiro
amor sem desdém.

pena!
com mais carinho
só prá fazer
neném.

fui brusco,
passo da
hora,
atropelo homens,
ando em
charretes
de minha infância
de dois nomes,
um pai, a bela
mãe,
e os gafanhotos
que morrem
sem esperança.

aprendi a escrever
por dever,
desaprendi
lendo
os artistas
de pena, e
carrapichos
de
que nunca
ofendi.

me parto em dois,
por sofrer
na floresta
feita de arquivos,
morando com
esquilos,
chorando
fácil
por tudo
aquilo.

hoje se foram:
o início e o fim,
todos bem partiram;
se é demais dizer,
um torto e afogado
no tonel da vida.

eu, esperto,
só rezei.
e de perto
esperei
ele levantar.

qual. mortos
não andam.

mas na minha
terra de ócio,
perto da rocinha,
mortos andam sim:
depois da meia-noite
das almas,
de pó se tornam
gente!

que agouro!
que aperto!

ter medo do
próximo que
se foi
prá terra
de não dizer,
só sei cantar,
prosa e verso,
e, de pouco,
aprendi a
chorar.

não lamente não,
amor de roça
é assim mesmo,
tem trilhas
e longas
sombras
prá você deitar,
e cálido amar.
José Kappel
Enviado por José Kappel em 19/04/2006


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