José Kappel

Um amor sobrevive a outro amor

Textos

A Ida Volta Não Tem
Enquanto vagar, há estrelas
E elas não consomem mais do que
um pequeno pedaço de você.

Enquanto dono de algum reino
- mal reinado sem flores -
você fará parte das avenidas e ruas
semi-cobertas de vazios!

E tente passar por essas ruas crisadas,meiadas com ameaça de fogo eterno e de esperanças tão ralas
que mais parecem chocolate de criança.

Enquanto isso, não tente esconder nada,
enquanto isso se esconda por entre tijolos entrelaçados
ou faça escorrer de seu corpo como magias de circo.

Não há ninguém à sua volta!

Os que existiram, deixaram de ser
-prá que não sei -.
Se vieram, vieram prá alguma coisa
Senão prá chorar, ou rir,
ou prolear filhos, ou dançar-mulheres
ou fazer roda num tempo
que nem a folhinha - cansada - marca mais.

Se veio, veio prá alguma coisa
Não foi só prá beber e comer,
dançar ao véu de estrelas
ao morenar ao surrupiar do sol.

Se veio, veio prá quê?
Prá ver o tempo passar?
Prá fazer agenda,
prá não fazer nada
e depois ser informado
que você jogou com a falência
de dois rumos:

O primeiro foi instalar sua vida numa cabana
de princesas;
O segundo foi procurar uma rua de domicílio
e fazer dele uma suite quase eterna.

A qualidade de meu atendimento continua péssimo.

Não sei mais entender qualquer coisa
- e diga lá - coisa coisa que se mova:
Até prédio visuais se locomovem ao suave ao tempo
que, diga-se, não apráz e a nada leva.

Se hoje é dia de comprar é
Dia de festa
ou de roda,
ou de presentes em promoção de
aniversário, é sempre bom se afastar
e procurar cativeiros patrimoniais
onde mulher não entra,
mulher não sai
e homens se matam!

Se cascalho amêndoas
vejo as horas - e elas
já passaram.

Grito por todos
e todos se mudaram prá outro canto de ninguém.

Não há mais canção e se tivesse não seria de
encantos. O tempo se foi - diga-se lá!

Para reencontrá-lo tenho que mortificar minha
eternidade,
barganhar com os céus.

Troco tudo por dois pequenos minutos
de minha infância;
dou todos os pertences maltrapilhos,
por 3 minutos de ser criança e dois por reviver
nadar em juventude.

Mas o tempo é cruel, não barganha, não troca,
não quer.

Faço então, com toda dignidade, que me lastra
e me impõe, vou atrás dela.

E para isso basta fechar todas as portas - e que o sol não entre..

Feche os olhos e só pense nunca coisa:
A ida não tem volta!
O ficar amua e solta
arreios de medo de virar
de uma hora para outra
assuntos risonhos dos mortuários.

Mas se tenho que ir,
que seja agora.
Cinco horas. Hora da descida.
Na falta de milagres, ora de ir,
prá bem longe e deixar o corpo
de vintém aos que em mim,
algum dia,
devotaram perdão.
José Kappel
Enviado por José Kappel em 06/05/2006


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