Águas de Barrelas
Sou ânsia da água - orgulho de reza -
celebrante de seu brilho, macero meu destino em seu apanágio, corro montes pela sua pureza. Sou vida por sua causa, sou andante de reis, nunca sou posto à prova de fogo e vivo cristalino,o lustroso exulta de alegria minha rala alma. Sou ânsia do que vêm da água, sou coisa fácil, até maleável, venho de reinos de celebrantes onde exorcizo meu amor saudável. Não vim de longe, vim de lado dela, vim dos sais, e me apronto de luz próximo às pontes. Água panada ! Não me importo com geleiras,cursos magoados de água, com lagos que nos refletem e prometem: um dia o que é volátil será porta de entrada de nosso amor instável e inacansável! Se da água tudo me faz vida procuro em seu banho-loiro, minhas forças apreciáveis, para fazê-la de toda, meu amor fadado, um amor que até hoje, só teve idas, paz e vertentes das águas de telhados! De volta, ninguém falou! E um dia ela partiu assim: abriu parte de água, e se tornou tão etérea como ave de bom agouro, banhada pela garoa. Mas, uso pote encantado, para guardá-la: assim, feito de barro, mas cheio de amarras. Águas de barrelas! Sei que água e vinho se misturam, sei que um faz o outro, mas meu curso já está feito: hoje sorvo seu beijo sem suturas, hoje faço seu dengo, mas dela faço minha primeira água, meu primeiro de beijo. E, se partimos, um prá um, dois - de que lado? Espero com a taça de água e o ameno vinho, a hora de você chegar, e abrirmos a garrafa da vida a botelha de luz. Que agora nos cedra e nos convida, para a próxima ceia: você de branco - igual a mais pura água - eu, de vestal, a servi-la como o mais vasto príncipe.
José Kappel
Enviado por José Kappel em 10/05/2006
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