O Homem das 5 Vezes
O homem das cinco vezes,
era sisudo e parente do vazio, sempre andou só e mal acompanhado, pois sua sombra refletia em sua alma. O homem das cinco vezes, era ponderado ao incriminar alguém, desarrumado, ao pedir clemência. Sempre foi joguete do povo, mas quem enchia os bolsos de cetim, macio,aveludado, era ele. O homem das cinco vezes, sempre morou no melhor bairro e, por isso, era completamente desconhecido de vez. Trabalhava com cartas marcadas, comia do bom e do melhor e saia bem caro tal costume de se fartar na mesa dos outros. O homem das cinco vezes, nunca perdeu uma vez - dai o seu nome -. Tudo ganhava e ganhava cinco vezes em seguida. Era plebe disfarçada, monstrinho de papel fogado e gente que passa rápido pela vida e não tem nem tempo para olhar para dentro de si. Tá cheio disso ai - de homens de cinco vezes. Eles são atiços e corretivos, balcuciam somente prazer e vivem de comesuras e mesas fartas e mulheres atorresmadas. O homem de cinco vezes quando morreu, morreu mesmo só uma vez. Ao seu enterro foram um crivo sacerdote e dois coveiros e mais dois da funerária, para levar a caixa de madeira. E o homem de cinco vez por ironia do destino, foi enterrado por cinco pessoas, e prá ele arrumaram uma rezadeira, que sabia chorar cinco vezes sem parar, mas se atropelava no verbo de cinco rezas. E nunca mais ninguém dele falou. Mas diz a roda do povo, que o maior problema agora, lá no cemitério das Almas, é o espírito do homem das cincos vezes que atormenta dia e noite, outros incautos que também morreram do dia prá noite na cerração da vida. Quando chega à noite, lá vem zoar o espírito o homem de cinco vezes, aos ouvidos dos que querem dormir. E aquele cemitério, antes, tão calmo e sossegado vive agora uma parnafernália, pois o dito homem não se conforma de ter morrido apenas uma vez - aquele das cinco vezes. E ficou devendo quatro vezes ao diabo !
José Kappel
Enviado por José Kappel em 11/05/2006
Alterado em 16/05/2006 |