A Festa Vai Começar
Quero hoje um pouco de paz comprada,
pois se fosse de graça, nessa nem enraizava; Os loiros e avelãs prá mim brotam em qualquer estação. Porque é tão simples: o jardim mora dentro de mim Coisa mais patente e diferente; Sou fruto das coisas mas não sou fruto dela. E dizem: Manuel,Manuel, cuida da roupa que seja bem lavada e prensada pois de gala você vai pra outra terra pensar! Mas se tenho que ir de pé lavado e corpo ereto e ordenado, a cabeça fica a mil só em pensar que vou largar minhas coisas e procurar o fim das coisas que começam no meu início: -disse o doutor bem postado. Assim passa o tempo: de dia passeio pelas ruas coloridas onde ficam mendigos de fora e igrejas postadas e indiferentes lá de dentro; com homens engravatados e mulheres de beleza encravada. Vejo bondes, trens e viajantes - todos indo prá algum lugar; vejo casas ricas e pobres, pois vou devagar já que a idade faz pesar igual a ferro de engomar! Vejo crianças, mas não posso mais ser uma delas, nem elas ser um homem crescido e bem barbado, a procura do que faltou naquele tempo de calças curtas e galochas acalentadas, prá chuva evitar. Vou assim pelo meu caminho sem ao menos saudar o pároco e seus lantejoulos pois sua casa - bem feita e guardada são de ouro, com fortes rolos de tijolos! Se não posso ir nem voltar nem ficar posso! Se me chamam respondo agora com um não! Prá que dizer? Se toda hora, de hora em hora, tem na frente outro não? Passo meus dias bem agasalhado De manhã vou ao jardim de flores e penso lá comigo: - já que não há ninguém prá junto pensar: Existem lá flores iguais a essa, no jardim sem nome e de ninguém? Mas quero morrer no mar bem longe da costa e afundar como afundo agora, entre saudade e muita ânsia, pois de ferro não sou. nem criança mais prá chorar! Mas que eu queria voltar prá lá, isso eu queria! Ver todo mundo que morreu e dizer: voltei, voltei pro meu lar voltei: soprem as velas pois a festa do desespero vai começar!
José Kappel
Enviado por José Kappel em 20/05/2006
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