Abas Largas
Dobro a consciência,
Mas não perco o ritmo. Aposto nos vendavais E me banho nas correntezas Sem por elas ter razão Sem por mim - nem de dengo. E agora sei porque me contavam histórias: Era para esquecê-las! Agora sei porque meu avô Arruava às sete com chapéu De abas largas. Era para esquecê-lo! Sei disso sem me contarem, Se me contarem digo que não, E choro,mas digo que não! Mas não me contam mais. Sei agora porque alguns eram enterrados Sem lhes falar o sobrenome, só de preto coturno! Sei agora porque toda dor Tem um nome,endereço E um guarda-chaves de ouro. Bem sei, agora. Mas o o que fiz Já o fizeram! Sei agora porque Às vezes o sol não surgia, Sei agora que por vez, a lua, Tal qual imagem invisível Sobrevoava, mas Fingia que estava lá. Befazeja e feliz. Sementes e brotos rodopiantes! E o que fiz Já por bem o fizeram! Sei da dor de todos, Contam-me da luz de todos: Essa tal luz que só estrelas entendem! Fulano tem dengo,outro Por certo,mulherengo, Se achava por tras das sobras. Sei agora, De coisas que não entendia. Me preocupo bem em Guardá-las no pé Da cama. Lá onde moram os amigos Que foram E os que não chegam. Sou entendedor de tudo. Mas não entendo nem de vela e caixão, Disso passo longe. Dana em mim, Mordida de cobra, Cama mal-feita, E café com cheiro de mato. Disso eu entendo, Mas de vela e caixão, Não senhor...não senhor! De mulher até me aconchego bem juntinho na soleira da cozinha. Mas de vela e caixão. Benevides! Me deixa longe! Disso passo longe Passo por passar e com medo de gigantes Porque gigante mesmo, nem mesmo, Não passa lá. Passo longe de mulher Bonita ou feia,dá cadeia! E do forró, da vela e do caixão! Disto passo longe. E gritam de lá: Ô!...ô... Josés alcoviteiro! Já viu a morte Dançar bolero? Mas, Disso passo longe Por formação e Por medo. Do caixão passo Longe Porque não entendo! Disso não entendo. E que me seja fadado: Que um dia renasça estrela E que seja meu dever, De soldado e de rei, Tomar conta do Meu medo! Mas do caixão passo longe. E que digam lá de cima: Vai homem, chegou A hora de seu passo. Vai tomar conta de sua sombra! Que um dia, Que um dia, dia que me valha, Deuses e espíritos, Longe de mim minha sombra, Minha vela e meu caixão! Disto passo longe, Mas que agora importa? Virei estrela alcoviteira, Tudo, tudo, Por um diabo de louco Amor!
José Kappel
Enviado por José Kappel em 02/06/2006
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