Amoras, Amores
O sol rebate
sem rumo o entardecer de dois dias e prepara a chegada da noite acalentando o solo sem nome. Me rosco na pávida tarde, sem medidas e sem proveitos. Ela simplesmente me avisa que alguma coisa etá morrendo para outra nascer. Pensamento crucial que me leva à beira dos sem-nada: afinal alguma coisa teria que desaprecer para o alvorecer de outra. Matemática infantil ! Poucas medidas! Não sou homem de meditação profunda, nem me aventuro no profano. Mas me roço de lembranças - e tenho poucas - porque não sou filho de nenhuma guerra, ou primo-irmão de algum Zeus olímpíco. Não tenho formosuras, Não sou homem de procuras! Mas, lá no fundo, eu sabia o que havia acontecido de tão medro e constante. Nossa separação seguiu o ritmo do tempo, dos dias e das noites: foi simples: alguém tinha que esmaecer e lograr o escuro, para que a luz surgisse em sua vida. Morte assim pareçe escassa! Mas para que sua vida se trocasse em milagres, tive eu, como a noite, desaparecer diante do fragor do sol. E assim me senti como tropas dispersas num campo de batalha, desfeito,a procura de amoras, porque mesmo os desventurados do amor puro, mas esquecido, não jejuam à morte dos morimbundos. E naquele dia fui tropa e fui amoras. Mas não consegui ser sol fogoso ou lua amortizada de amores sem nome e perdido, sem cuidados, indo morrer no fundo-lodo!
José Kappel
Enviado por José Kappel em 07/06/2006
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