Amedronta
Vim andando pela calçada,
com esquina enviezada e com de três saídas. No alto, soberbo, andares de três pontas, e um patamar enluarado. Bulicei e acariciei um sonho, que , na história, tem vestido de mulher, mexidos trejeitos, rendas e outros azulões bem próprios para a época: fresca e dolorosa. E parei no contra-tempo de mim mesmo. Não havia saídas nem érgulas escadas. Estava preso dentro de um sonho-vivo, onde as pontas - do início ao fim - se chocam em agonia e tenaz solidão. Era um sonho de 1800 quando havia ainda bondes e impiedosas galochas, e fotogênicos bonés de crianças; vivia um sonho do tamanho do tempo, de imensidão e de dor. Estava vivo para nascer. Estava pronto para chegar. E naquela época nascia-se em qualquer lugar, até dentro de um sonho belo. E meu lugar escolhido foi a relva da madrugada, foi um colo sem mãe e, um pai embrião, de duas vidas e vinte copos. Foi assim que cheguei. Foi assim que chorei.
José Kappel
Enviado por José Kappel em 16/07/2006
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