Ânsia Por Demais
Ânsia,de várias vezes:
ânsia disso, ânsia daquilo, infindáveis ânsias que mora a pouco metros de mim. Na casa ao lado, na mansão do medo, no espigão da frente, na moradia dos incautos, coberta por amianto, no prédio dos comuns, na fresta que se abre e da luz que não entra. Ânsia sem cessar, que não fica na porta de ninguém mais vive na minha, alentar. Ânsia do meu mundo acabar e eu com ele. Se você já foi uma vez tal ânsia, sabe do que falo. Aquilo que gargala o estômago e medra as mãos em suores alados. Se já foi ânsia, você faz parte de mim, de minhas coisas e das coisas que não tenho. E não tenho banho-maria, nem corte marcial, nem desfile infernal, nem escadas prá subir e mais outra prá descer. Se você já foi ânsia, sabe lá o que bem falo. Falo do mundo que cria amores e depois trata de matá-los. E minha ânsia corre o mundo: desde Angola até Portugalo, corre atrás da paz perdida, do sossego desavisado, da agonia desatenta. E nesta ânsia comum há um fato banal e corriqueiro: só tem ânsias aquele que perdeu, ou está prestes a perder, sua viola mágica, seu maestro de vigor, sua infância de circos ou seu amor fácil. Amor fácil demais, mas cheio de ânsias!
José Kappel
Enviado por José Kappel em 21/07/2006
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