Ària de Dom Bosco
sou alto
e vago, corrente, quem sabe? cheio de ternura, tomado de claros e escuros, que formam figuras. que me amarguram até o fim-do-mundo. hoje, se já me vou, vou sozinho, cantando árias de dom bosco! valham-me centavos! mas me levo nessa barca, dos sem vida. nem que tenha de barganhar minha honra por só um retrato dessa moça, que me arfou de ternura. mas isso arde e dói. por isso vou, e vou sozinho. na ida,tudo bem, os calistos me dão à mão ! na volta, é história de sabão. lá,vagamente me chamam de antônio, e vira prá cá, e sacode prá lá, na hora incerto chamam sempre seu tonho pra ajudar. disperso dos bons, e me junto ao da trilha dos sem pai. os bons já sabem o caminho da noite. mas o maus, mal sabem a trilha a pelejar. por isso, mesmo daqui, há cem natais, quando tudo cansar, saio eu da velha noite, e avanço, qual fanstasmas, nas minhas lembranças, que, ainda em vida, morreram e nada deixaram pra pouco me acalentar. viva maria! salve seu tonho! de dois em dois fazemos um parar de completa, árdua e nesga solidão: desssas, repleta de choro e lágrimas. mas sempre cercada por corrimões, escadas, trilhas, e fotos, da bela moça de saias, que um dia, por dizer não, armou minha vida na casa dos sozinhos. sou parte dos que chegam. vou devagar, trilho o próximo, vergo sua força, mas temo, que, por mais queira, tal amor, é vesgo e por tal perco. tal amor é pra gente de dengo, que é feliz, pois tem aprontos no colo dos deuses. é quando me perguntam porque fiquei digo lá: fiquei sem alvo, por amar, mais me deixaram à toca da seara, na casa dos calvos. fiquei e mais fiquei! mas, juro lá: um dia, quando o dia esbravecer e escurecer mais cedo - só para os notáveis, juro e juro já: me escondo dentro da noite ! tenho vagas à dispor. vagas cobertas pela semi-escuridão da noite, árida dos sozinhos. tenho vagas, e certo tempo, para acolher, os que chegam e o que dela partem. todas fazem parte do meu espírito que vive o caos, de meu sentimento que clama luz, do meu viver, atolado de lembranças e sombras. daqui, nunca mais, prá frente já fui demais ! hoje é meu dia de procurar vagas, em corações abertos, ou semi-feridos, que acolham um pedaço meu, do meu sozinho, que pelo espaço da vida - jaz - e morreu ! e, por fazer parte, ardo e contento, num brilho fosco, vou à baila e danço árias de dom bosco!
José Kappel
Enviado por José Kappel em 25/07/2006
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