Dias de Breu
Sou filho do escuro,
e não me apetece brumas; sou filho regenerado, mas não sou capitão de escunas. Sou filho passado e construído, lentamente, através de meu tempo e dele não abro mão,nem que me tentem. Sou filho das águas e não me apetece o largo; sou filho da álgebra com o amor. Na matemática de horrores, nasci aqui com alto indolor! Não posso mais sentir meia-pena não posso me envolver nem com os dias - neles me perco -. Não posso me envolver com nada vivo pois me sombranceio de angústia. E tudo é palpável como brinquedo de criança; a vida pulsa a cada metro, e me desaba por dentro um tino de tristeza, pois alcançar a vida não dá mais reteza. De dia branqueia a lua meiada à noite, ela de gala, se posta ao meu sombrelo de pala e diz: nunca mais, nunca mais fará parte de qualquer ala. Viro brinquedo disposto e carinhoso; viro régua de quatro, mordono de jardim, reta larga, de mão dupla, corrimão de casa velha e, de repente, se abre um longo espaço para minha festa interior: e,assim, estou pronto. Já não sei mais fazer nada. Sou personalizado! Receio que me cantem de eternas orações lá no céu, por isso tiro o chapéu e esperro. Espero as orações chegarem a mim. Mas isso leva tempo. Até hoje já levou um montão de milhares de anos;anos e anos, sem manobristas! Enquanto isso coloco pela casa,ramos, faço minha agenda, ouço as notícias, me remoejo com a indolência. Hoje sou prato frio, com amplo estacionamento. Tenho qualidade no atendimento, mas perco pela voz e pelo aniquilamento. Assim, passam os dias e eu rapasso as mãos no vazio, procurando decalque de estrelas prá me marejar.Um alívio! Sopra o primeiro vento de inverno e eu me guardo. Tenho medo de ter medo, tenho receio da apreensão, tenho pressa de ser o que não sou. E nesta hora quando se falam em santos, arredo o pé. Tento tanto medo de pertencer a qualquer céu ou reluzir nesta amarga Terra. Me dói,sem assistência de fenecer! Fico só. Tá bom assim. Abro a janela e vejo passar meu primeiro sonho da vida: achar um copo mágico de vinho e sofregar um gole suave, prá afastar minha vida da vida que me criou, das coisas que disseram que eram e agora morreram - ou morrendo estão - plenamente e devastado, pelas minhas mãos vão escorrendo.
José Kappel
Enviado por José Kappel em 01/09/2006
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