Muros e Paredes
Sou da Córsega,
Mas não sou de vinho, Sou belga e cosmopolita Mas não sou companhia Nem de sussuros, Nem de composturas. Sou dono de Vinte Muros E Vinte Paredes, Não sou de vidro Nem de carmim. Mas sou dono de Vinte Muros e Vinte Paredes. Meus amigos caminham ao largo, Meus inimigos se juntam a mim E, escudados de lanças, Atiram flechas e estiletes Contra Meus Vinte Muros E Vinte Paredes. Guerra de vãos! Guerreiro de bons dotes, Sábio,mas lépido, Me escondo Entre eles, Os Vinte Muros E Vinte Paredes Não há um que passe, Dois tentaram e Pararam no décimo. O primeiro morreu no Terceiro Muro E o segundo se esfarelou Quando encontrou a A quarta parede. Gente de glória, Reis e rainhas. Já que tentaram: Mandaram guerreiros E tropas bem-vestidas Mas esbarraram em Meus muros E deslancharam nos Muros pintados de cera Branca e coberto por Fuligem bem-passada. Do céu vieram tochas E, íngremes, cairam por Perto. Da terra vieram choques, Tropas imensas de Guerreiros. Mas, pobres! Meus Vinte Muros E Vinte Paredes Os enchotaram Como bem o Fazem com os cães. Do lado de dentro Há Vinte Muros E Vinte Paredes E nenhum homem Me alcança. Só quem lá chegou, Por algumas horas, Foi a mãe-parta, Veio de visita Para calcular a altura De meus muros. Pensou e calculou E deu 50 anos. Mãe-parta acertou, Eram cinquenta e quatro anos. Depois ninguém veio mais, Os Vinte Muros e Vinte Paredes Foram perdendo a razão, razão, pobre dela, de existir! Meus escudos para nada Mais serviam! Já que homem algum Se interessava pela Minha proteção. Ela, cada ano, Se lancetava e Tomabava grandiosa. Até que nada mais restou. Meus Vinte Muros e Vinte Paredes Perderam o dom e, Pobres, se esfolaram em Terra velha e saibro de rio velho. Num belo dia, Quando o dia era de Bom sol e calor Como é de feitio em Las Palmas, Eles tinham sumido. E de vazio em vazio, Senti que de nada mais Era dono. A idade tinha chegado E com ela, esfolaram Meus Vinte Muros E Vinte Paredes. Fui morar, de remorço, Na casa alheia, Perto da praia de Castelha. E daquele dia em diante, Voraz e atiço, passei a construir Muros e paredes de areia, mas Que lá no dourado do sol, Durava uma maré. Fui chamado, já velho, De rei da areia, Construtor ocupado De paredes e muros De areia e conchas. E por lá fiquei. De sol em sol, mais Envelheci. Até que um dia, - e um rubor me toma - morri coberto de areia junto com meus Vinte Muros e Vinte Paredes, que a sábia maré fez por bem levar, Lenta e sóbria, Como o pai carrega O filho. Como a lembrança carrega a vida. Mas onde estão, Tal pai e tal filho? Encondidos nos sonhos, De meus Vinte Muros e Vinte Paredes?
José Kappel
Enviado por José Kappel em 03/09/2006
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