Senhor das Portas
De sua tez amistar
rodeiam pontos de suor e certas tonturas que não têm cerca. Fui chamado à proa do nada para conhecer a dona da morte: senhora bem-vista, temerosa e amedrontada e tão bela como arroz-doce. Mas senhora, dona de todo o Norte,sabia eu,lá aonde faz a vida e mas semeia a morte. Fui chamado a provar minha vida e certos amores. Fui chamado a provar de identidade e provas vãs, todo o poder de uma jovem de duzentos e duzentos e poucos anos, dona de mim, escrava do Senhor das Portas. Fui enbojado de suor, trêmulo de alegria e augusto de pavor, tentar com molho de vinagrete colher os frutos da bela paisagem e rever o que fui ontem - dono de pedras - e o que sou hoje - dono de portas do tempo. Rude Senhor das Portas, que só nos deixa no cercado. No árido, nas janelas sem emoção. De duzentos em duzentos e poucos anos estaremos de volta - disse alguém de angústia emproado. O resto não importa mais. A rua tangenceia de povo, urnas e estátuas. Os prédios nos fazem coisas minúsculas mas dele somos donos. O Senhor das Portas só faz perguntas etéreas e nos deixa sempre no cercado. Pergunto por Marie e ele solene, diz: Marie só, se foi. Eu sozinho, juncado de instrumentos que me levam em direção sol só pergunto por Marie. Ontem, duzentos e duzentos e poucos anos, lá estava ela de blusa carmim e beijos escorridos, com saias de belas rosas. Tramitava em si a ordem maior do Senhor das Portas: faça dela coisas de amor e entregue ao mais sério rei dono das terras interiores que faz do homem um pouco de sal, faz senhor das pedras com seu reinado sobre o sol. E fui e voltei durante duzentos e duzentos e mais poucos anos. E lá ela continuava em sua escuridão. Havia partido para os juncos do Senhor das Portas e, de resto, só um pedido deixou: faça dele um rei. Da rua onde moro, onde chove pouco e neva forte, posso ver todos os dias, dias de manhã à sobrenoite, ela passar lúgubre, abraçada ao Senhor das Portas. E apenas um olhar me lança e sobrepuja em seus lábios: espere mais duzentos e duzentos e poucos anos pois até lá o Senhor das Portas libertará seu amor da vã eternidade para seus braços mortais.
José Kappel
Enviado por José Kappel em 03/09/2006
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