Lado Branco
A lembrança tem
dois lados a de lá - e o lado que você veste. Sempre me perguntam como fui parar no lado branco, o do sol, como o sal e sujeito a rebeldia. De nós, demos mãos dadas, toques diferentes, como pétulas de rosas de verão, velejando pelo seu rosto. Coisas diferentes. Que ninguém sabe onde começou nem onde vai parar. Mas uma coisa é certa de lá pra cá restou pouco. Só tive tempo de tomar um aguardente, cumprimentar amigos na esquina, me esbarrar com a multidão, atravessar a longa avenida, como uma corça perdida, pegar o bonde das três e ir lá, bem longe da terra, enterrar ela no meu espírito já tão embriagado. E essa história de imortalidade é puro cosmético: hoje, quem perde perde, quem foi, foi tarde, ninguém quer ouvir! Resta seguir o corso e lapidar inocências e querências de trésontem. De mal ninguém tem nada mas na hora de perder Lá me chamam: -João ! Ô João ! Carrega o caixão do seu espírito. Mas, quantas águias famintas e rosas lânguidas habitam dentro de mim ? Só meu lado branco pode chorar por isso!
José Kappel
Enviado por José Kappel em 05/09/2006
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