Exercício de Terracota
Bate e perde:
Bate e perna Bate o braço, Esperneia, mas não canta, Por ser homem, Porta a dança e Bruma o perfume. Por ser homem, O vôo é curto, Mas a caçada é brava. Morre de costas, morre de dor, Balança e apruma. Costura a ferida Como um boi de cordão! A terra é sua, O grito é escuro. Mas no fim com Mil bandeiras e mil guerreiros Eles te lançam à morte Mas a terra é tua. Fios de sol, Escorridos e magros, Brilhantes e lancetados Por arco-iris, Procuram teu corpo pela porta do tempo. Mas, ao entardecer, Sozinha e coberta De cinzas e da leve brisa, Sem temer, Dá a mão à tempestade E nela se abriga Porque de agora até amanhã Ela tua amiga. Os homens a fizeram morrer Dentro do tempo de ninguém. Brinde a amargura de ser só E cada vez ousar mais o tempo. Chamá-lo de sem tempo e desafiá-lo, Porque o que perdeu aqui vai achar lá, Do outro lado da porta de cedro. Um dia, bem mais cedo, bem mais tarde Vai dizer: "Eu estive lá" Na terra do encanto onde ela repousava. Quase mosteira! E não se fala mais de morte! Soltem os pombos E Façam a luz brilhar. "Eu estive lá "Na terra do corpo dela" E agora espero No roçado que não faz rei! -E não se fala mais de morte! Há oito músicos ao seu lado, Às seis em ponto - chegaram. Em cada ponto, uma bala, um canhão, Três valsas sem nome, Ela vestida de pano, Botelhando uma garrafa Do mais puro vinho. Perto do meu abismo, ela me serviu então Uma flor que roda a vida e, Meio tonto, meio sem graça, Fui lá pedir Trigo e pão, barro Para terracota. E lá no brejo ouvísseros de pássaros, Com comidas de velhos bascos, pedi, meio senão, De morte, não falem mais!
José Kappel
Enviado por José Kappel em 05/09/2006
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