Maria De Antão
Vi de saída
quem pouco via há meio ano de século. Estava de cachemira rosa, -e abatida e dispersa - Por pouco mais de meio ano em vi! - e eram cinco minutos - Ela vestia-se de velha, Corpo pendido, costas arqueadas, mãos de avelãs. Mas senti, na amplidão daquele encontro sem nome, que ela existiu. Pedi perdão a todos, Não rezei, porque não sei, mal o sinal da cruz me foi pedido. Olhei pra ela Ela me olhou. Sentimos os dois que 50 anos de verdade haviam passado. Isso é verdade ! Mas lá no fundo daquele corpo como um poço iluminado, eu ainda me achava, e ela também. Aqueles santos imóveis pareciam se deliciar com isso! Afinal, pra que servem amores eternos? E por isso, num catinho, sem estrelas, perto da sacristia, eu chorei e me dobrei como uma coluna imensa. Lá estava ela, lá estava eu. Duas abóbodas de luzes Sem mais a quem tocar, Sem a ternura de dias Sem beijos e abraços Sem pejorativos, protocolos e adeus. E na minha vida, Como um santo, que descobre sua vocação, me vi diante do tempo: de um lado ela, de olhos ternos, de outros, a eternidade de cinco minutos. E pra dizer agora que um dia num século desses, Ela foi Maria José e eu José Maria. Mas vi, de saída, quem nunca mais pensava em ver. Credo cruz! Nesta velhice de burrice, Acontece tanta travessura que o coração bate mais largo e a gente acaba acreditando que em nada, nada mesmo, há uma curva ou uma volta de tempo. Prá frente, aroila de meia-idade! Seu tempo já acabou! E Maria José se foi, E José Maria te tocou !
José Kappel
Enviado por José Kappel em 05/09/2006
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