Dança com Izabela
zero que
tráz. zero que leva. nesta vida de barro só encontro o vesgo da pedra, os riscos de pó da brita, que na multidão de ar, solavancam e fazem danças. dançam o misterioso ritmo do acaso: se der, se não der, não erro, ela sempre está lá. vida que vai vida que vem. sou simples daqui. mas um dia encontro ela vestida de vermelho, bem da cor da minha terra. banhada pelo leito de barro que cobre a estrada de pó, sem muita paisagem, nem muito cara. fui barro andante, das horas e ânsia de procura do tempo. encontrei muito pó e saibro: cós nas pedras rendadas de argos gritos. fui neste caminho pra esquecer dela, e achei este cantinho, todo bruto, na face da terra. fui perseguir meu tempo sem revés e sem vento. fui tentar me achar dentro das rachas de pedras dos pós de brita. perto das áridas pedras me achei. eu era um pária de ocasião, fazendo festa de tristeza. onde lá perdi meu rincão de flores. onde morava para sempre minha pobre izabella. foi assim toda minha vida. um dia ficava com ela, noutro, brigava com a saudade. até que o destino partiu com ela, e me deixou igual mangas à revelia e desbotadas, abanado por mãos esquecidas. mas me encontro, um dia eu encontro, e faço dela um novo começo. se izabella é de vir, será flor, se não for, apenas canteiro sem jasmins de dor, no meu jardim já sem sol. bem perto: onde os homens chamam de lápide fria, vazias almas de algum deserto.
José Kappel
Enviado por José Kappel em 06/09/2006
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