Canto dos Dias
Canto o canto dos dias,
canto os pássaros, a meiga paisagem, a torta de amoras, canto a faina dos homens embriagados. Canto o próximo como se a mim fosse um pedaço de outro eu, entrelaçado por fortes cordas de amores cedidos. Meu canto é seu canto, minha voz é a sua, meu desejo é vovê. Mas que fazer? Dúbia encruzilhada armou deuses nada patrióticos. E como nasce o sol de repente, sem remendos,ela disse adeus. Pura história simples, sem estrias. Só dor de amargo. Dor sem fim. E pensei comigo: só na Somália! Descobre-se a morte dentro da vida. Aqui, no meu canto, de pouca valia, e nenhum dengo, peço por ela. Dê a mão e cruze meu destino com o seu. É fácil: é só atravessar um imenso campo de trigo e, lá no final, você vai encontrar um rútilo espantalho. E disso que faço da vida. Ou que a vida fez comigo.
José Kappel
Enviado por José Kappel em 12/09/2006
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