Fazendo Paixão
Das poucas que não sei fazer é paixão
Pouca, porque não sei se existe, E se existe às vezes passa longe como um vento ameno que ruboriza a tez Não sei alcançá-la porque ela é leve, mas atroz. Leve como uma pluma que dança ao vento, Atroz porque quando suas portas se abrem Poucas lá são as saídas. Tenho lá medo de suas garras, medo de criança quando vê possíveis fantasmas, medo de gente grande quando sente suas âncoras ficarem em seu corpo numa paixão tão coerente como a sombra da lua. E pobre de você se nessa água não souber ao menos gritar. A paixão avança, como valentes guerreiros imberbes, que se preparam à guerra volátil, Prontos para invadir fortalezas,rompantes de vidro que ao sopro ameno se estilhaça e te faz escravo de alguma coisa e de alguém. Paixão é coisa forte. Paixão foi feita para ser vivida nunca para ser descrita. Não há palavras que a julguem. Mas há sempre lágrimas a contar. Mas demasiados sentimentos a atormentam como um sol cáustico que queima e faz adormecer os que não a esperam. Não sei por isso falar de paixão, É tão poderosa e tão frágil que suas pontas se duelam numa batalha que nunca termina. Não sei falar de paixão porque tenho medo, Não sei precisar exatamente onde fica Na minha extremidade de dor ou na ponta de minha angústia. E se tudo nela é perigoso depois de feita e composta vira sonho e apanágio, vovê vira guerreiro sem nunca ter tocado numa frame espada; Vira estrela formosa, se transforma em sóis perdidos em vários mundos que no fundo, bem lá no fundo, é apenas uma coisa: você e ela. E num tempo de cem anos você vira uma criança de três ânsias. Paixão é tão complicado como é simples questão de ânsia particular. Mas jamais registrada é em qualquer cartório da vida. Pois data não tem nem para nascer ou morrer; seu único registro é quem nela viveu. E tem uma certa hora, hora e meia, até sem hora certa, que a paixão vira tema de você mesmo: um retrato esfumaçado na parede granil e jamais você poderá descrevê-la, apenas ouvi-la, ou por ela chorar.
José Kappel
Enviado por José Kappel em 24/09/2006
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