O Homem Que Gostava
tenho um amigo
que gostava de tudo. gostava de viver, de ver o trem, de colher flores, de explicar, de ser olhado. gostava de montanhas e se absorvia em vales. gostava de tudo que via, e sonhava o prever. meu amigo é da faina, bolha de soprar, vida de rumo. um dia, porém, sem nenhum amém, ele descobriu ser dotado. numa sobra de carmim, num rasgo de seda, num lampejo de luz de cristal. e, essa coisa, o deixava atordoado, e sem lei: ele não gostava ver a mulher que amava sempre nos braços de outro rei. por isso, descobriu ser dotado, também de grande angústia, de papel passado e tudo. ele era uma história, não um homem, daqueles de capa de revistas, cheio de glória !
José Kappel
Enviado por José Kappel em 26/09/2006
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