José Kappel

Um amor sobrevive a outro amor

Textos


Vida, são duas vidas, mas se comportam, numa mistura mágica, como início e fim. São apenas meios de encontros interiores. 

E você faz deste interior indescritível de luzes! 

Onde há luz; vibra o amor, onde remaneja o amor, brada também o sol que tem nome de juncos sem espaços, de cores cristalinas, onde coisas se misturam e, no final, você não sabe se vive sua vida ou remaneja seu espírito para o abraço de três estrelas que mora numa mulher. 

Quando te encontrei pela primeira vez, me deparei comigo mesmo pela primeira vez. Estava descobrindo um mundo e não sabia. 

Quando te toquei a primeira vez, o que era de mim transportou-se para algum lugar indefinido que os homens chamam de apanágio dos amantes. 

Se uma vida procura a outra, é obra de graça, dos espíritos que nos rondam, até um dia nos acharem e fazerem acalanto de criança. 

Sou homem de plena voz e fraquejo diante da flor. 

Sou homem de duas pátrias, mas só vergo o uniforme da amada. Sou homem de três vezes, duas escadas e uma porta. E uma flor. E uma doce mulher. - Disso acho que sou dono! 

Mas, há uma porta. 

E é essa porta que me atormenta. Tormento dos espíritos! 

Se por ela entrar, sei que jamais sairei, pois fui criado com brinquedos de pelúcia e sei o que é o fragor da pele latejante. E o calor do brado do amor. 

Se por ela entrar, pouco há de saída. 

Mas, o que me atormenta, além dos pássaros feridos, dos jardins empoados de terra, de portas semi-abertas, e sem flores, do céu sem estrelas é a possibilidade de encontrar o impossível dentro de toda grandeza que jamais conheci. 

O que me amedronta, é o vesgo da noite que perdura. O que me atormenta é a parte onde o início não tem fim e você acaba por entrar numa eternidade de luzes. 

Minha querida, queria pousar este corpo de canseiras e bravuras em teu colo e ouvir lamúrias sorridentes de uma poeta sem-fim, que nasceu para engrandecer e dar forma aos tortos. 

Foi numa noite de Natal, minha maior noite: encontrei a solidão pela primeira vez. Das casas reboavam alegrias e suspiros de rimas. Ao atravessar as ruas sonolentas e indiferentes, senti a grandeza de minha solidão que não teve mais fim. 

Assim me traumatizei como o guerreiro que foge ao espoucar da primeira bomba. Retroage, foge, camufla e volta para dentro de si para nunca mais sair. 

A felicidade dos homens não estava mais em mim. 

Mas, o tempo é loquaz e as direções se movem sem você ao mesmo sentir que está sendo levado por uma correnteza e não sabe onde vai parar. 

Mas, viva as águas puras! 

A felicidade dos homens eu a perdi faz tempo. Desde a época de criancinha, onde soldadinhos de chumbo eram meus heróis. Naquela época não havia heroínas, apenas pedaços de metal, que, no fundo, pouco me diziam. 

Patrocino minha angústia em seu ombro. Apazíguo minha guerra, entrelaçado em suas mãos. 

E mais: sou homem de entrelas; dar mãos, e deixar o tempo dizer se meu voo parte para o Norte ou para o Sul. Mas o caminho deve ser o interior de sua alma. 

Moro em seus olhos, vivo no seu espírito. Tenho 29 itens de angústia e uma de felicidade. E esta que, lá do fundo, me despertou para a vida e me mostrou que milagres são loucuras maravilhosas e só fazem parte delas mulheres maravilhosas ! 

É onde o tempo para. 
E você não pensa. 
Não diz. 
Está diante de uma obra de arte, moldurada de matriz de ouro. 

Por isso, querida de todos os tempos, o céu acaba de se abrir, o milagre se fez, encontrei minha eternidade com você e, dela, não quero mais deixar. 

- Que derrubem os portais e os vitrais ! 

Pois sou homem disso: de descobrir, de repente, que a mais pura beleza está em suas mãos e a eternidade, fácil, muito fácil de encontrar, está em seu espírito onde seu milagre é minha inspiração. 

E que toquem Amapola 
pois vou dançar 
na corte dos reis 
com a única rainha 
de beleza infindável 
e coração enraizado 
no meu. 

Será a festa dos reis e das rainhas. 
E o milagre será aplaudido de pé. 
E serei novamente herói dos espíritos abençoados.
José Kappel
Enviado por José Kappel em 07/05/2017
Alterado em 27/07/2017


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