Seu Porto
É uma sentença,
talvez mortalha branda, talvez um copo em desuso, de vinho-largo. Mas chega perigosamente perto da despedida. O que se pode fazer, se lateja o bruto e não mais o lapidado? O que se pode fazer se o rumo têm dois caminhos, nenhuma trilha, e o indicativo só mostra ervas daninhas? O que se pode fazer se as nossas figuras se apagam, como o passar da folhinha, de cor angustiante, para quem não está acostumado com os dias? E se a vida roda assim roda assim comigo, vacila com você, pois entre dois pares, um se perdeu em qualquer caminho. Não diga que não, não diga que sim, vacile na hora imprópria negue três vezes para achar seu meio-sol. E se não existe verdade não existe mais dor aos pares, nem angústias díspares. Agora te encontro no soslaio do vazio: você pra lá, eu pra cá. O que perdemos perdermos sozinhos, ganhamos pouco, porque frutificamos no sonho dos enviesados. E se a história conta assim dois reis, duas rainhas, um castelo vazio e um povo com fome do amor que passou, da ânsia que dá voltas, remeia e quer novamente se achar. E se há duas voltas há uma ida; e neste barco sem rumo, certamente lá espero no seu porto !
José Kappel
Enviado por José Kappel em 07/06/2019
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