Intricado Amor
Antes que a noite chegue, e os pássaros em caminhada serena procurem seus nichos, olho travesso o cair da tarde. E nada me apavora mais do que a sofreguidão em espairecer alento e ver tudo nascer e morrer à minha volta. Há restos de fogo do sol ainda no ar e plaina uma névoa, digna de um holocausto de beleza. O odor das flores começa a sombrear o ar, numa maestria de dominós perfilados. Tudo bem particular. Pois, os homens à minha volta não percebem que algo se transforma na natureza. Poucos se dão conta do milagre. Estão ali por mútua passagem. Mas nada os assombra. O início e o fim das coisas estão em nossas mãos, deslizam por nossos olhos, fincam estrelas em nosso corpo, lapidam o louco em consciência e transformam o são em trôpego. Doce aventura do homem ! É o sinal da vida. É o início da morte. De mãos dadas com meu cinturão de esperança, onde argila e ouro de misturam, num sinal que não há lugar para ambos. É o início de alguma coisa, se não posso traduzir, posso imaginar: eu sou a meia-parábola, a continência, o rebuliço, o caos, pois misturo sua face com o ardor da natureza que só espelha nosso intricado amor ! José Kappel
Enviado por José Kappel em 05/07/2019
Alterado em 03/10/2019 |