No Fundo Escuro do Rio
Querido pai.
Sei que esperas com ansiedade. Sei disso, pois sei do frio do também sobrenatural e por fazer parte da família que se foi um dia. Mas hoje... hoje! Estou feliz, feliz assim: cheio de roupa nova, brilho de seda, parecendo um rei que não se despertou para o adulto. Sou eu que desfruta de satisfação e ventura; sou ditoso, afortunado, venturoso. Lá por dentro onde voam pássaros de fogo estou intimamente contente, alegre, satisfeito, por saber que vivo estás em algum lugar que ficou. Sou eu que prospera, que não teme o além, ou se desliga da vida de modo permanente. Sempre tive bom resultado; fui bem-sucedido: e favorecido pela sorte, um afortunado: Sua imagem é forte proporciona felicidade, e disparates de emoção, pois sou um bendito avulso. Estou sempre bem lembrado ou imaginado, pelas moças da vila, e vivo com o restolho de nossos sonhos. Hoje denoto a visão da alegria, com satisfação, contentamento e ventura. Uma zorra de alegria numa pedra que bate e não fere! Mas, hoje, pai, bem lá no meu interior, abandonado e triste, vejo o que me resta de abrolhos e confusa sensação de que nada fui ou fui só aparência de carcomado. E depois de muito ver e pensar sinto que minha hora chegou pra me alentar ! E daqui da ponte vou ao fundo do rio pra abraçá-lo ! Que mal fará se apenas quero alentá-lo ? Foi seu caminho. Agora é o meu desbotado de carinho ! De seu filho, José Kappel
Enviado por José Kappel em 10/09/2019
Alterado em 12/09/2019 |