Sombras de Solidão
O medo avança diante da noite. Eu, sofrido e pávido, me escondo entre as poucas luzes que me restam. As lembranças vão e vêm. Latitudes de amor!
Os sonhos me sacodem toda a noite como se fossem embrulho desenganado de Natal. Mas o medo - ah! este existe e, por trás dele, uma eternidade de perguntas, cujas respostas não alcancei. E se as tenho, tenho lá medo de sufragá-las à minha vista - parte do coração! Mesa posta. Princesas enfastiadas de calor e desventuras me afastam de sua beleza! É quando a solidão bate à porta e não faz mais perguntas! Uma festa no sozinho acinzentado é uma parte dela. O que ficou, ficou para atrás. Mas o que vem pela frente é tudo o que ficou pra trás. De repente, vai chegando. Igual a uma estrela a nascer. O que está presente são lembranças, fáceis de lembrar, trocar e até perder. Difíceis de entender! Ainda mais a uma criança de correr e sonhar. Não faço por menos, sou forte, mancebo de dois séculos; sou guerreiro e se vivo sozinho é porque me acautelo de milagres; as entradas estão esgotadas para as coisas santas e as portas estão cerradas. Se ofereço, me negam. Se me aceitam, aceitam aos pedaços e meio. Vou vago e caminhante a procura de cachoeiras maravilhosas e pássaros encantados. Ah! a fadiga! Já estou interditado e premente de esperas. Sou rápido e fugaz em perder. Atendo todo mundo! Mas na hora de chorar vou para um canto de sombras de solidão - minha companheira sem nome! José Kappel
Enviado por José Kappel em 09/01/2020
Alterado em 09/01/2020 |