Mulher Poeta-Apanágio
Por vontade própria e desejo incomparável, lhe dirijo estas palavras que são, nada mais, nada menos, do que uma dedicatória ao talento e à limpidez intelectual que brota de suas mãos, que lhe impede de ser comum, que fortalece a vida espiritual e acomoda todas as angústias. Coisas que só você sabe fazer. As palavras são instrumentos de prazer e dor. Assim como o cirurgião lapida a angústia do próximo, você, com seu talento, faz o mesmo, com sentido apraz e maestria soberba. Muito já foi dito, comentado e enaltecido, mas nada fica a nós tão grato do que elevar você à categoria dos privilegiados e dos comensais da esperança e do alívio, quando mesclas as dores fugazes às angústias do tempo. E é quando a sua angústia lateja mais e você consegue transpor e sobrepujar a própria dor interior - sem com ela se importar - e criar dentro da magia das letras, uma forma de acalanto, onde mesmo ferida como um pássaro sem alento, e sem frescor, onde as coisas dispersas do mundo, dos antagônicos, dos desprezados, dos ansiosos e daqueles que sofrem por minuto, são entrelaçadas e colocadas em seu lugar e descritas com sua maestria de poeta, que comove os insensíveis e adormece, com seus cantos, crianças e idosos, com ideias maravilhosas de como tudo poderia ser perfeito igual a você. Quando assim é, a amargura e a dor, às vezes latente, se torna sua porta-voz e a transforma em apanágio e conforto para o espírito. Somos gratos a você, por nos pertencer e, sem torno e sem aridez, nos tornar mais capazes de entender um mundo tão complexo. Saber descrevê-lo é uma coisa, saber senti-lo é outra. E este é o seu dom. E com ele aprendemos que o dia de amanhã é possível. Sem você seríamos pouco. Ou nada. "Mas tentamos ser igual à você: doce canto da primavera, que nasce em seu peito e nele aflora e que de ânsias espera um dia que se torne a glória dentro do esplendor das cíntias e da floresta encantada, uma voz para sempre esperada!" José Kappel
Enviado por José Kappel em 04/08/2020
Alterado em 05/08/2020 |