José Kappel

Um amor sobrevive a outro amor

Textos


Me Espera
 
À primeira vista não sei se dá certo. Pode ser impressão desalmada; pode ser angústia embutida; pode ser aprendizado de criança.

Mas, à primeira vista, parece que nos perdemos. Foi tudo tão repente que até os dengos dos céus se assustaram com tamanha feracidade.

Aleluia, pois já vira Natal sem nozes. De torto fica envergado. De tenaz, vira fraco. Mas que amor dizimado me abateu?

Uma hora é sim, outra não. Se faz futuro, não sei. Mas está bem no presente e ninguém é de ferro.

Engomado fiquei eu. Tomei chá das cinco vendo o mar e o pôr-do-sol. Lá no cais abortam navios e eu já sem barco.

Já não alcanço qualquer coisa. E não me faço de rogado. Se é a ilha dos amores eternos não faça dela joguetes de amores extra-terrenos.

Piso fundo pra esquecer. Afinal neste crime de espíritos desvariados não há culpados.

Mas não há paciência. Se houve, foi por acaso. Se sentiu, sentiu devagar e mostrando que a água se transforma em vinho e dela bebe quem quiser.

Agora sou dois. Um chora sozinho. Outro chora comigo. Agora me divido em partes. A primeira morreu, a segunda se perdeu.

Mas que laço eu fiz? Depressa fui ao longe, descobri ouro e perdi todas as pepitas por não saber ser rico. Maldade das coisas. Já não entendo minhas coisas. São todas atravessadas e sem sentido.

E agora ficou pior. O que era um caso, virou desastre. O que era um campo de flores, virou charco. Que faço?

Faço meia-dúzia de rosas e mando pra ela. E digo bem no seu ouvido de cetim: "você é meu amor. Desculpe se faço assim".

De lado não nasci. Mas amar, eu sei lá, amar eu sei demais; mas perder também não sei.

O que faço? Compro meia-dúzia de pétalas de rosas e mando pra ela colocar no quarto e ficar de mim lembrando.

Um dia, um dia... quando ninguém esperar tudo vai surgir novamente, sem meias-distâncias, sem entrevero - um parque de milagres, cheio de luzes.

* As coisas nascem predestinadas a não ser, pois se fossem todas, o céu morava com a gente. Se me perco na sua grandeza, também me acho na sua luz. Sou de vidro e quebradiço, mas já fui guarda do rei e lá sei montar espera. Já fui ordenança e comiserado. Sei o que fazer!

*Que tal desmentir o destino, fazer dele engano e voltar pra sua casa, onde você abre a porta e me abraça e docemente me diz: "meu príncipe de todas as horas chegou!"
- Vou lá um dia. Espera, doce mulher, nascida pra amar e enternecer! Espera, que um dia vou lá morar dentro de seu coração!
José Kappel
Enviado por José Kappel em 09/08/2020
Alterado em 25/11/2020


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