José Kappel

Um amor sobrevive a outro amor

Textos

Véspera do Tempo

Na véspera, você não pode cantar o tempo. Pode tentar sobrevivê-lo
e convencê-lo de sua rapidez, mas não contar ou somar o que ainda não existe.

Hoje é quase ontem. E daqui há pouco já passou. Se vais somar ou diminuir, nove fora nove, mexe na data e só encontra a da frente. A de trás já se foi.

E o tempo está chegando. Tudo é tão grande, mas tudo é tão rápido. Não dá tempo pra pensar, nem pra titubear diante da vida.

Se parar no tempo você é carregado, como uma folha sem nome nas ardoses suaves do vento.

Por isso, meu amigo, não pense duas vezes: saia de casa e vá ver o tempo passar bem perto de você. Porque se você - pobre de ti - em teu interior mergulhar, vais encontrar só pedaços do tempo. E este tem o costume de dar nome às coisas e às datas, já comiseradas por lapsos de feriados e fins de semana.

Não misture seu tempo com o dos outros. O do próximo pode ser vago e
de pouca importância. Pode não ter folhinha  - destas que te dão na porta do bar ou da oficina mecânica. Por isso, veja bem a data no calendário. Mas não marque seu tempo por ele.

Uma coisa é certa: se não vais, vou eu.... Eu, de bengala na mão e chapéu displicente, ver as madeiras das fogueiras do tempo estourarem em todas as cores e, nesta mistura, ver se acho uma luz que me ilumine de vez o coração.

Mas, tão diferente é o dia de hoje!

Afinal, que dia é hoje? E o que estou fazendo aqui - preso - neste gargalo da véspera do tempo?
José Kappel
Enviado por José Kappel em 03/06/2021
Alterado em 04/09/2021


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