Se me misturo, faço parte,
se me isolo sou cola de arte,
pé de sapato,
corrida sem volta.
Se sou, caminho,
se paro, me perco,
se danço, valseio
no cordel dos avulsos,
nas paredes dos homens armados
que de mim fazem tiro alheios!
Se ando assustado,
dizem que é por falta de abraço.
Mas abraço eu tenho
Só que são só pra me calar.
Assim, sou um laço,
uma pedra no sapato.
Quem me olha, me pergunta :
mas existe tal homem tão pouco arguto?
E eu digo contristo
sou de lutar pelo livre!
Cansei de esperar:
a vida não é lá essa coisas não:
a gente pede e perde e vai até o reduz,
e nada se produz,
até parece que os anjos
de férias estão,
nos comodatos felizes do azul.
Não posso comentar porque
se disser, apanho,
com cerrado de pau
pra machucar.
Se calar, me angustio no vasto parque!
E me pergunto, pra que isso
pra que aquilo? Pra que tanta arte?
Pra que tanto disparate?
Pra que tanto poder à venda
e tanto dinheiro comprado no destarte.
Se é uma dança sei dançar,
mas poucos me chamam para tal.
Homem perdido, devasso
- dizem lá -
pra mim, que tem pouco tempo pra arder,
nas páginas de algoritmos
dos homes de falso poder.
Mas sou teimoso igual a um varal de frivela,
não há vento que me derrube - nem pensar!
Pois estou preso estou nas arestas das pedras
preso ao varal de leis.
Fui ensinado na vida a lutar !
quando me atacam com brincos
medievais, onde a mentira se torna mais mentira,
e a verdade custa a ser credidata como verdade !
E, de verdade,
me levam,
daqui, pra lá, de lá pra lá.
No fundo do poço fiquei eu
tentando me salvar
com as cordas que não jogaram.
E passo agora o tempo boiando
entre as pedras maceradas de fungos
boiando e boiando - igual a um peixe -
mas lá no fundo do poço sofrendo de dor e
pensando :
como é triste ficar sozinho
no meio de tanta gente,
e pensando nas distâncias
que os reis ostentam, e a plebe
aceita cabisbaixa e rendida,
pois o medo é dono de
nosso medo.
Nasci pra toda vida, viver a vida,
sem ninguém com ferrolho
me fazer calar !
E está todo mundo
armado de ordens,
e sobrepostos de balas
que tem cheiro de dinheiro.
Eu, sou eu,
não sou tocaia,
e ninguém me faz
doer !
E, no final,
tenho medo
de ter medo e tenho medo
de não ter medo !