José Kappel

Um amor sobrevive a outro amor

Textos


Sou de várias utilidades
e permanentes ansiedades.
Não me poupo com coisas vãs
nem me retraio na áurea ansiedade.

Tenho dois rumos,
e dois irmãos.
Tenho um pé de maracujá
e colho anchovas.

Coisas de criança
que não envergonho de
dizer - queria ser mais uma.
Na primeira eu tenho guardada
num armário de grandeza
secundária e meio carente.

Na segunda, eu me perdi quando
estava exatamente no meio dela
- época que vivia bastante coerente.

Mas o tempo foi passando
como passam argutas as
árvores numa janela de trem
desvalido.

E sempre pensava comigo:
como tem tempo essa gente!
Nada de especial de ontem para
hoje, dizia.

Mas que monotonia,
pensava.

Hoje tudo de especial vem ao meu
encontro.
Hoje a monotonia é coisa
constante e pérgula dourada.

E no tempo - penso eu -
enquando agendo com a
secretária o dia de amanhã,
tudo passa, menos o ardor
que você sente de que
nada pode ser feito prá tudo
virar de cabeça prá baixo
e o zoneamento da vida
se tornar ordem unida -
- assim como nos quartéis.


Logo, passo meus dias de
bom proveito,
comendo uvas amaciadas pelo vento
e pêssegos quase dourados
de tanto sol.

E me pergunto, a toda hora,

sem ânsia,
Se estou preso num canhão de bucha,
- e com razão,
porque o mundo não virá outra
criança e tudo não para de rodar
como se fosse carrapeta de rodas?

 

Loucura amena,

também dá nos outros.

Até em Charmene deu !

 

 

José Kappel
Enviado por José Kappel em 07/04/2022
Alterado em 07/04/2022


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