José Kappel

Um amor sobrevive a outro amor

Textos


É uma sentença,
talvez mortalha branda,
talvez um copo em desuso,
de vinho-largo.


Mas chega perigosamente
perto da despedida.

O que se pode fazer,
se lateja o bruto e não
mais o lapidado?

O que se pode fazer se
o rumo têm dois caminhos,
nenhum trilha,
e o indicativo só mostra
ervas daninhas?

O que se pode fazer se
as nossas figuras se apagam,
como o passar da folhinha,
de cor angustiante,
para quem não está
acostumado com
os dias?

E se a vida roda assim
roda assim comigo,
vacila com você,
pois entre dois pares,
um se perdeu
em qualquer caminho.

Não diga que não,
não diga que sim,
vacile na hora imprópria
negue três vezes
para achar seu meio-sol.

E se não existe verdade
não existe mais dor
aos pares,
nem angústias
díspares,

pois somos castelos sem portas

Agora te encontro
no soslaio do vazio:
você pra lá,
eu pra cá.

O que perdemos
perdermos sozinhos,
ganhamos pouco,
porque frutificamos no sonho
dos enviezados.

E se a história conta assim
dois reis, duas rainhas,
num castelo vazio,

e lá fora
 um povo dem nome.

E se há duas voltas
há uma ida;
e neste barco sem rumo,
certamente lá espero no
seu porto !

 

Porto de estranhos

onde só há idas,

e as chegadas

estão lá proibidas,

feito pássaros sem ninho !

 

 

José Kappel
Enviado por José Kappel em 17/05/2022


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