José Kappel

Um amor sobrevive a outro amor

Textos


Sou parte da metade,
meio inteiro por partes,
sou andarilho corriqueiro
mas não sou de carregar bandeiras.

Se arde, coloco a cura.
Se perco, chamo pelo devasso.
Se caminha puro é relevado.
Mas olha pra trás pra descobrir
o que não vem.

Se é floresta tem sombra,
se é deserto, procuro a adega
dos mosteiros que pendem
aos ilhéus.

Se é pendular, fica convexo.
Nada mais atrai. Nem a atenção
dos senhores da terra e
das senhoras com outras pretenções.

Cura tem. é só sair de si mesmo,
voando igual bala sem jaça.


Cura tem, mas preciso é se sujeitar
ao princípio da coisa:
ser portátil e não ser volátil,
ter condizente e alar de parafina
os alados !

Se dói, dói na carne,
carne feita de ardida para
machucar.
Se não sente o pão,
não sente a vida,
se é arguto,
passeia com azedos
roliços e amargos da vida.

Se tudo é assim
parto do princípio
que a coisa começa
devagarinho
e vai matando enquanto
você ainda procura
dentro si mesmo -
o andarilho,
o vagante.

A próxima dor é minha:
do andarilho que espera
um dia, um dia só,
ser o que nunca foi
e sonhar amargo pelo
que tentou ser.

 

 

José Kappel
Enviado por José Kappel em 19/05/2022
Alterado em 05/02/2024


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