José Kappel

Um amor sobrevive a outro amor

Textos


Sinto que sinto, que nada me passa, que sou alcance, pedras de triturar, comodatos dos fiéis cavaleiros sem reino.

 

Se vem da terra, boia na água, encharca os vinhedos, sem voltas, de passadas e goles rápidos, cheio de repentinos.

 

Sinto o que falta começar para acabar.

 

Sinto que falta - o início do falso - que começa a chegar.

 

Sinto o que passa: na terra do lembrar.

 

Se ela passa vou untado de mel! na terra só minha, onde rodopiam girassóis!

 

Não importa seu caminho: deve ser curto, cheio de pavio, premente para lançar chamas no vale do amor sem sol.

 

Se vai, vou atrás. Não me importo com abreviaturas da vida, se ela passa, passamos nós, se o pêndulo da meia-noite marca as horas do medo, afago as mãos dela, e peço, meio cáustico e redentor, não me deixe sozinho neste jugo de solidão.

 

Se foi, partiu devagar. Se chegou, veio com pressa, se me mandou cantar, afogo minha voz na ária dos mudos.

 

Se está certo o certo vai provar. Se errado os brunos vão acordar.

 

Se sou dois caminhos numa trilha apagada, sou voz trêmula, também pra gritar:

 

Me procura, nos caminhos curtos, de vento azeitados.

 

É lá que fico, por horas, por esmero, à espera da saia longa, brocada de suaves e lânguidos amores. É lá que espero.

 

É lá que mora meu desespero!

José Kappel
Enviado por José Kappel em 12/07/2022


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