José Kappel

Um amor sobrevive a outro amor

Textos


Lírio de três véus,
de três vezes,
lírio do amanhã,
que sugere
o amor de nossa vez.

 

Lírio que amadurece,
ao posto-vento,
que redemoinha
por entre a vida,
e faz dela
um perpétuo
jaz de lembranças
do
sempre mãos-dadas.

 

Jardim que a abriga,
sem justos e com
fundamento:
lá, adquire o 
sentido de mulher
ao fogar do sol,
ou quando chega
serena, a noite pálida.

 

E ela caminha
por entre roserais,
que  faz parecer
um eterno vendaval,
que me ronda
num jardim poroso
onde até flores
parecem luminárias
de minha vida,
e  por isso
me desorientam.

 

Nós somos o próximo
a velejar,
pela  visão do mar,
na festa de córsega,
onde fizemos
atalhos contra o medo.

 

Mas não mais adianta
voltar,
não mais adianta
seguir.

 

Os pêndulos da vida
já nos marcaram
como parentes
do infinito,  onde
não há horas,
nem pra amar.

 

E por mais que faça
ela já não é mais ela,
é outro círculo que
viveu no ontem.

 

E numa bela manhã
de descobertas
avulsas, percebe,
indecisa, que o chegar
às vezes dói mais
do que o ficar.

 

E se é lírio
morre cedo!
Se sou eu
vivo a esmo!

 

Hoje, pensando no grande
amor,
relembro no
bravio da vida :
tudo passa.

 

Que tudo passa perto, 
muito igual
a brisa de ontem,
que tinha tudo para chegar,
mas também tinha tudo
para partir.

 

José Kappel
Enviado por José Kappel em 02/08/2022


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