de longe, sentado,
ao largo de um banco úmido
de orvalho, batido pela madrugada
sabemos que perdemos o que
nunca tivemos,
e deixamos de ser
aquilo que sempre éramos.
música de sonho,
flauta mágica que tocava
oboé,
quando o verbo da
carne falava
através dos desejos úmidos;
das testas empoadas de suor.
assim foi uma única
vez:
o que vinha numa direção
rebateu-se noutra,
e a paz que era duradoura
virou pacto de guerra.
hoje, sabemos nós,
estamos
perdidos em dois
espaços, onde, soslaio,
não há mais tempo.
nem para ir nem para voltar.
duendes mágicos,
surgiram do nada
cobertos
com dobradiças de ouro e almejados
de beijos e abraços que, nunca,
nunca, chegaram por aqui,
na minha velha choupana.
agora sou
antro apaziguado
de sonhos e esperanças,
que se mede ao vento,
que bate afônico,
até virar lágrimas.
agora virei barril,
vendo pólvora avulsa,
pois,
minha esperança se foi,
e os guerreiros armados
de saudade tomaram
meu castelo sem rainhas.
fizeram as malas de Tícia
e a mandaram
pra bem longe desta
angustiosa parede,
cheia de interior.
se foi, e levou também
arco e flecha
para um dia, se puder,
caçar saudades,
sozinha na floresta,
encantada de luzes.
magia é pouca:
dona do vestal
ela se foi,
e a mim deixou.
lastimo!
porque sou fraco.
já que na minha
ordem interior
e ativa,
só tem amor cativo!
e, assim, o amor se
foi,
ainda agônico.
e morremos vivos e
nascemos mortos,
e toquem os tambores:
para que nasçam mais amores,
mais abraços,
mais sussurros delicados,
mais mãos-dadas,
nesta vida toda complicada.