José Kappel

Um amor sobrevive a outro amor

Textos


Sonho doce, sem raiz, sonho de sonhar sem aniz.

 

Roço o céu de sua pele, misto o absurdo com o feliz, o princípio que não teve fim, o princípio sem resmas, que nunca vai começar, que nunca vai acabar, pois tudo em mim já partiu, tudo em mim é igual ao pobre perdiz sem vôo.

 

Coisa da coisa que faz outra, mas não faz o dengo, pois o tempo é lento, e foram criadas no templo dos senões.

 

Faz dengo de amor e alenta para folhagens sem ramos, absurda meu sonho desatento.

 

Senão eu vou; senão eu volto, me rasgo, suspiro o doce, vago aroma que flerta com o ar.

 

O romano sol com nuvens tão brancas como sua face, que simplica a vida e de mim só roça e purifica.

 

Pásaros coleiros que deixam no ar, rastros de verão, e me empurram lá prá longe onde o sonho começa e você acorda sem corpos de ninguém.

 

E, no ar, só aroma de ameixas!

 

E mãos de deixar.

 

Agora, só o simples de seu corpo passou aqui; só o mestra de sua vida, me roçou lenta e amável, nesta noite que agora começa, e só para o sol tem hora pra acabar.

 

Verde anil de seus olhos, entrevero de minha alma, corpo do mundo que nunca vou ter.

 

Lábios sem beijos, que vou sonhar, vida de duas pátrias que um dia, só vou lembrar! 

José Kappel
Enviado por José Kappel em 20/08/2022


Comentários

Tela de Claude Monet
Site do Escritor criado por Recanto das Letras