José Kappel

Um amor sobrevive a outro amor

Textos


vivi sempre 
no espaço
de duas
vias.

 

espaço de
uma porta
atravessada,
uma janela
cerrada,
uma escada
com nódoas
de tempo,
tudo longe 
dela.

 

tudo subia,
tudo descia.

o tempo se
fez em dias,
as horas
em minutos,
e, disperso,
convivi
com mortos
toda a vida.

 

tudo longe
dela,
feito no
escuro
e nas
sombras.

 

um caso
pra se 
aborrecer,
um caso dito e
feito,
que tem tudo
pra jamais
voltar a
nascer !


Contato de ser feliz,
vi hoje ao
amanhecer
nas dobras do
céu que abriam-se em caminhos
fogosos.

 

Na terra os
homens sorriam de
paixão vai-e-vem,
ao se sentirem alvos
das sentinelas das calmarias.

 

Era tudo o que eu queria.
Era tudo o que sonhava e dizia:
uma pequena resma de
luz acesa aqui
acaba por iluminar todo vale.

 

E este vale de campos e flores
é hoje meu corpo. 

 

Doce agasalho,

me perco devagar
nas brumas da noite
que se aproxima.


São as incógnitas
da vida que deixei
de viver.

 

Me perco em seu corpo
que viaja longe,
sem destino,

abusando
das graças do passado,
evitando o presente,
refazendo imagens
do futuro,
onde minha fuga
é de fogo e dor.

 

Viajo devagar,
pois meu corpo
nunca teve dono.


Se teve,
está perdido na corrida
do tempo,
entre as estrias de um suspiro
e de um beijo.

 

Se falho em perguntar,
falho pela minha ansiedade,
pois se você é você,
cheia de graça e harmonia,
mulher de dois mundos,
e com o poder dos deuses,
para desazer e compor,
então, volta para
meu corpo
pois ele dorme lento
de paixões
e finura de esperanças.

 

E se um dia bater na minha
porta,

simplesmente
lá, diga:


meu senhor:
sou sua aventura,
sua agasalho.

 

Do lado do caos, pingentes de luz,
Do lado direito senzalas trabalhadas
No lado esquerdo, pedaços de saias,
No meio,banhos de ouro, formas de gente.

 

Queria supor que se escoresse paredes,as teria!


Queria ser um herói aquecido para derrubá-las,
Queria ser forte e grande

como bem sabe a cachoeira.


Ser valente, cavaleiro, pertinaz homem para enfrentá-las.

 

Queria ser artista de muitos muros
gladiador de sentimentos
pichador de espíritos solitários
e mancha permanente em corpos miúdo de emoção.

 

Queria isso tudo: queria mais do que o céu,
navegar entre estrelas, ser pássaro da tarde
e namorar a moça de dois véus
e um longo veludo de acariciar a face.

 

Queria ser homem gentil e comedido
porta-voz de minha lucidez
e passar de fila em fila
e entregar um pedaço de pão
aos pobres e mendigos -
nossos frutos sem horizonte.

 

Mas sou apenas casca de noz desprezada.


Pedaços da história que o tempo matou,
um herói do caos,
na vitória dos desesperados !

 

José Kappel
Enviado por José Kappel em 21/08/2022


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