José Kappel

Um amor sobrevive a outro amor

Textos


Sou ponto nobre,
com atendimento especial,
consulto meu lar de palha
e nado nas florestas ao largo.

 

A floresta é densa e cheia
de medos aparentes;
tem sua confirmação de sol
e de lua.


Mas tem nódoas de vazios!

 

É lá que eles descansam,
enquanto os homens depuram
as flores com golpes medidos,
sem coração.

 

Se meu corpo se faz na floresta,
é porque sou aindo escuro,
não persigo o sol,
e vivo em brumas,
e lembranças dos
mal-partidos.

 

Minhas horas são como
sua mais profunda densidade;
meus minutos, eu passo
entre o soberbo da negritude
e da esperança que alguma coisa
nasça, em plenitude.


Mas nada que seja de passo!

 

Mas desta amplidão não dá nem frutos,
nem esperanças,
nem comodidades de estrelas.

 

Tudo é vago 
e zonso.

 

Se estou perdido na floresta,
estou perdido
dentro de mim.

 

Se estou perdido,
sou uma folha tonta,
esvoaçante, que voa sobre
suas copas.

 

E se não me encontram
é porque já sou vareta
de açoite.

 

A floresta é direta e incisiva,
não faz alarde,
e vive sem acalanto.

 

Desta floresta 
eu não saio mais.


Ela fez de mim sua sombra,
me invadiu com ramos folheados.

 

De mim ganhei o sol,
mas de mim tirou sonhos.

 

Hoje, ando vesgo por entre seus galhos,
e digo: sinto muito,
fui uma vez, pra nunca mais ser.

 

Vivi uma vez,
pra morrer em vida
no templário
dos indignados,
que quebram os homens

com machados

de corte,

as vivas flores.

 

E na falácia dos desmedidos matam a gente mesmo!        .
 

José Kappel
Enviado por José Kappel em 22/08/2022
Alterado em 22/08/2022


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