José Kappel

Um amor sobrevive a outro amor

Textos


Sigo o caminho do vento,
temeroso e retraído.

 

Sua passagem, às vezes,
cálida, às vezes, rompante.

 

E sempre deixa rastros
cujos donos somos nós mesmos:
frágeis, decorosos e temerosos
de sua força,
de sua presença invisível,
somos o papel doloso 
que ele remoeja.

 

Sigo o caminho do vento
pois ele foi feito para
conquistar adeptos,
ora diante de sua beleza,
ora de sua aridez.

 

Meu corpo se torna um meneio
de inválida saudade,
pois pela frente há uma
camada de vento sem rumo
e sem prumo.

 

Segue indolor e sem nome.

 

Pra onde me leva, não sei.


Nem sei porque vou.

 

Só fui a um chamado
a um canto de dor.

 

Ou para uma festa em seus braços!

 

Se o vento faz a festa
eu faço o drama.

 

Se o vento trás a esperança
eu lhe entrego a dor.

 

Porque tantos me chamam
dentro deste redemoinho
de caminhadas, perdas e
holocaustos que só o interior
pode refletir e bradar?

 

Se leva, não trás mais.


O vento foi feito para isso:
às vezes, para trair, 
outra para lembrar saudades
dos sufragos de amor.


Eu, no portal do nada,
espero por eles todos os
dias.


Como se fossem dias comuns - 
espero que ele faça de mim roda
de criança, louça de esperança
ou aperitivo ds reclusos.

 

Se ele existe veroz, eu aqui
espero.


Quem sabe, se num belo dia
sem data e sem deuses,
ele me carrega para seu interior
e me mostra
onde é o meu fim de mundo?

 

Ou,

onde a moça começa
ou onde o homem acaba ?


 

José Kappel
Enviado por José Kappel em 25/08/2022
Alterado em 27/08/2022


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